Diego Maradona: Uma Jornada Extraordinária da Miséria à Glória

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Diego Maradona, nascido em 30 de outubro de 1960 em Lanús, na Grande Buenos Aires, passou grande parte de sua infância em Villa Fiorito, uma favela considerada um dos lugares mais pobres e perigosos da cidade. As dificuldades enfrentadas por sua família eram imensas, e Maradona, ainda criança, não conseguia compreender por que sua mãe sempre dizia que a comida estava “disposta” na hora do jantar, quando na verdade ela dividida a refeição para que os filhos tivessem o que comer.

Apesar das adversidades, o pequeno Diego mantinha bom humor e dizia viver em um lugar “privado de luz, privado de saneamento e privado de água”. Foi no futebol, porém, que ele encontrou uma alegria para compartilhar com os amigos do bairro, e foi nas ruas de Villa Fiorito que começou a demonstrar todo o seu talento com a bola nos pés.

Revelação e Ascensão no Futebol

Maradona era uma verdadeira estrela no clube amador do Argentinos Juniors, mesmo jogando partidas preliminares, já atraía multidões apenas para vê-lo em ação. Aos 15 anos, foi lançado no time profissional do clube, em uma derrota para o Talleres, mas a partir dali, grande parte da história do futebol começava a ser escrita em seu currículo.

Seus treinos curtos nos espaços apertados, suas arrancadas, lançamentos e chutes incríveis de curta e longa distância e de falta, fizeram com que se tornasse artilheiro do Campeonato Argentino pelo Argentinos Juniors. Seu desempenho soberbo o levou a ser convocado para a Seleção Argentina no início de 1988, ano da Copa do Mundo que seria sediada pelo país.

Embora tenha sido injustamente deixado de fora da lista final, Maradona já era o craque da Seleção nos treinos, sendo colocado na equipe reserva para equilibrar os rachões, e mesmo assim, muitas vezes os reservas venciam os titulares que contavam com jogadores como Passarella, Tarantini e Kempes.

Boca Juniors e a Primeira Passagem Relâmpago

Em 1981, o Boca Juniors, time do coração de Maradona, apareceu em sua história oferecendo um contrato por empréstimo. O Argentinos Juniors aceitou, com a condição de que Maradona se despedisse do clube em um amistoso contra o próprio Boca. Ele jogou um tempo em cada equipe e fez um gol de pênalti pelo novo clube.

Dois dias depois, mais de 65 mil pessoas lotaram a Bombonera para sua estreia oficial, onde Maradona marcou dois gols. Naquele momento, ele já era a principal referência do Boca Juniors, enquanto o clube disputava o Campeonato Argentino e jogava diversos amistosos para alavancar as finanças e criar uma “Diego mania”.

Sua primeira passagem pelo Boca Juniors foi relâmpago, durando apenas 40 partidas e 35 gols, mas o suficiente para se tornar ídolo do clube.

Barcelona: Altos e Baixos

Pouco antes da Copa do Mundo de 1982, o passe de Maradona foi negociado pelo Argentinos Juniors com o Barcelona. A Argentina chegava à Copa como a maior favorita, com uma base ainda melhor do que a de 1978, quando saiu campeã. Contava com a espinha dorsal formada por jogadores como Passarella, Galego, Bertone e Kempes, além dos prodígios Ramón Díaz e o próprio Maradona.

No entanto, a vida na Copa não foi fácil para a Seleção Argentina, especialmente para Maradona, que na estreia contra a Bélgica, foi literalmente caçado em campo, levando socos, chutes e cotoveladas dos adversários. Apesar disso, a Argentina conseguiu se classificar à segunda fase.

Já no Barcelona, Maradona chegou como um “messias”, com o clube vivendo uma enorme seca de títulos. Porém, o tiro saiu pela culatra, pois o clube contratou diversos argentinos para trabalharem diretamente com ele, o que fez com que Maradona demorasse ainda mais para se adaptar. Mesmo com as dificuldades, ele conseguiu liderar o Barcelona na conquista da Copa del Rey, sendo aplaudido pela torcida merengue no Santiago Bernabéu.

Napoli: O Rei de Nápoles

Após a temporada conturbada no Barcelona, Maradona aceitou uma proposta do pequeno Napoli, da Itália. Quando chegou em Nápoles, foi recebido como um verdadeiro rei pela torcida, que o aguardava com 50 mil pessoas no estádio São Paulo.

Apesar de o Napoli ser um clube tradicional na Itália, tinha pouquíssimos títulos de expressão na história. Isso impactava no futebol italiano, que era considerado minúsculo. Porém, a torcida napolitana amava ainda mais Maradona pelo fato de ele ter recusado uma oferta da poderosa Juventus.

Em sua primeira temporada pelo Napoli, Maradona terminou na oitava posição, mas na segunda, o clube terminou em terceiro, um enorme passo para uma equipe que geralmente não estava na parte de cima da tabela do Campeonato Italiano.

A Glória da Copa do Mundo de 1986

Chegando à Copa do Mundo de 1986, Maradona chegou até contestado, pois a Seleção Argentina se classificou com muitas dificuldades, devido aos problemas no Barcelona e por não levar o Napoli a grandes conquistas. Porém, a aposta do técnico Bilardo em Maradona como capitão da equipe se mostrou acertada.

Na partida contra a Inglaterra, nas quartas de final, Maradona protagonizou dois dos momentos mais emblemáticos da história das Copas do Mundo. No primeiro gol, ele colocou a bola acima da cabeça para desviá-la para o gol, após o zagueiro inglês ter rebatido. No segundo, ele driblou diversos jogadores, passando por Shilton e tocando para o gol.

Após a vantagem, a Argentina se fechou e sofreu um gol, mas avançou. Maradona disse que se houve mão na bola no primeiro gol, então “foi a mão de Deus”. Na semifinal, ele voltou a brilhar, marcando dois lindos gols que garantiram a vaga da Argentina na final.

Na grande decisão contra a Alemanha, Maradona liderou a Argentina à conquista do título, com um gol incrível que deu a assistência para Burruchaga fazer o gol do título. Ele foi eleito o melhor jogador da Copa, coroando-se como o maior nome daquele Mundial.

Napoli: Mais Glórias e o Início do Declínio

Após a Copa do Mundo, Maradona voltou ao Napoli e liderou o clube na conquista do seu primeiro Scudetto (Campeonato Italiano). Na temporada seguinte, ele foi o artilheiro do Calcio, mas o título acabou ficando com o poderoso Milan de Gullit e Van Basten, por apenas três pontos de diferença.

Na temporada seguinte, Maradona liderou novamente o Napoli na conquista de outro Scudetto, ao lado de seu amigo e parceiro, o brasileiro Careca. No entanto, em 1991, seu exame antidoping testou positivo para cocaína, escancarando seu vício e marcando o início do declínio de sua carreira.

O Fim da Carreira e o Legado Eterno

Após ser suspenso do futebol por 15 meses, Maradona tentou se desligar do Napoli na Justiça e acertou para jogar no Sevilla, ao lado de seu amigo Carlos Bilardo. No entanto, chegou acima do peso e não conseguiu desempenhar o mesmo futebol de antes.

Revoltado, rescindiu com o Sevilla e voltou para a Argentina, jogando pelo Newell’s Old Boys, onde pouco atuou devido ao excesso de peso e às constantes lesões. Mesmo desmotivado e depressivo, Maradona voltou a tempo de jogar a repescagem da Copa do Mundo de 1994 contra a Austrália.

Porém, caiu novamente no doping e, para não ser desclassificada, a Seleção Argentina teve que cortar seu nome do elenco. Maradona disse que “cortaram suas pernas” e que a Argentina “iria ser campeã” naquela Copa.

Após diversas polêmicas e suspensões por doping, Maradona anunciou sua aposentadoria em 1997, encerrando a carreira com 679 partidas e 480 gols marcados. Seu nome, no entanto, transcende o futebol e entra na idolatria, sendo considerado o próprio “deus” por seus fãs. Em 2000, foi escolhido pela FIFA, ao lado de Pelé, como o melhor jogador de todos os tempos.

Maradona deixou um legado eterno no futebol, sendo uma inspiração para muitos jovens jogadores. Porém, seu nome também se tornou um fardo, com diversos atletas sendo comparados a ele e recebendo a alcunha de “novo Maradona”, sem conseguir atingir o mesmo nível de brilhantismo e idolatria.

Veja também: Bibliografia do Pelé: Carta para Mim Mesmo

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